Alice Miller

Alice Miller (12 de janeiro de 1923 – 14 de abril de 2010), doutora em filosofia, psicologia e sociologia, concluiu os estudos na Basiléia, Suíça e realizou em seguida sua especialização como psicanalista em Zurique, tendo exercido essa profissão durante vinte anos. Em 1980, abriu mão da prática clínica e da atividade docente para escrever. Desde então publicou 13 livros – vários best-sellers traduzidos para 30 idiomas – nos quais tornou conhecido ao grande público os resultados de suas pesquisas sobre a infância. Alice Miller faleceu aos 87 anos na França.

Alice Miller apresenta dois conceitos criados por ela:

Testemunha auxiliadora

Uma “testemunha auxiliadora” é para mim uma pessoa que ajuda uma criança maltratada (ainda que de modo ocasional), que lhe oferece um apoio, um contraponto para a crueldade que determina o seu dia a dia. Pode ser qualquer pessoa do seu entorno: um professor, uma vizinha, a empregada da casa ou a avó. Muito frequentemente são os próprios irmãos. Essa testemunha é alguém que demonstra uma certa simpatia ou mesmo amor à criança que apanha ou é vítima de negligência, é alguém que não quer manipulá-la com o intuito de educá-la, confia nela e lhe transmite a sensação de que ela não é má e que merece carinho. Graças a essa testemunha, que nem mesmo precisa ter consciência de seu papel decisivo e redentor, a criança aprende que, no mundo, existe algo chamado amor. Nos casos mais bem-sucedidos, ela desenvolverá a confiança em relação às demais pessoas e poderá preservar o amor, a bondade e outros valores da vida. No caso de a criança não ter tido o apoio de uma “testemunha auxiliadora”, ela glorificará a violência e, mais adiante, irá exercê-la com maior ou menor brutalidade, de acordo com o que lhe foi infligido e sob os mesmos pretextos hipócritas. É muito significativo que na infância de assassinos em massa como Hitler, Stalin ou Mao Tsé-Tung não consigamos encontrar nenhuma “testemunha auxiliadora”.

Testemunha conhecedora

Um papel semelhante ao da “testemunha auxiliadora”, na infância, é desempenhado pela “testemunha conhecedora”, na vida do adulto. Com esse conceito refiro-me a uma pessoa que conhece as consequências das negligências e dos maus-tratos sofridos por crianças. Essa pessoa pode, a partir desse conhecimento, auxiliar vítimas de abusos, manifestar-lhes empatia e ajudá-las a melhor entender os sentimentos de medo e impotência oriundos de sua história, que lhes são incompreensíveis, fazendo, assim, com que possam aproveitar com maior liberdade as possibilidades da vida adulta.